Mais forte do que as armas. Para mostrar ao mundo o que se passa na Ucrânia

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O cineasta russo Yuriy Gruzinov veio a Portugal apresentar um documentário sobre as manifestações de Kiev que estiveram na origem da mudança radical na Ucrânia, primeiro política, depois militar, com a erupção de violentos movimentos separatistas no leste do país.
"Mais Forte Do Que As Armas" é o nome de uma longa-metragem documental do Babylon '13, um grupo de cineastas profissionais que se encontraram por acaso na noite mais emblemática das manifestações antirregime na capital ucraniana e decidiram mostrar ao mundo "aquilo que realmente se passava na Ucrânia".

"No dia 30 de novembro de 2014, os estudantes que estavam reunidos na praça Mikhailovskaya, em Kiev, foram brutalmente espancados pela polícia. Mas no dia seguinte ninguém falava sobre isso. Não havia nenhum tipo de notícias. Estávamos perante um total blackout informativo", contou Yuriy Gruzinov ao Expresso. "Nos dias que se seguiram, ucranianos de todos os cantos do país que souberam do sucedido através das redes sociais começaram a chegar a Kiev, para defender quem lá estava e para mostrar ao Governo que não iriam tolerar mais a sua criminalidade".

Um dos objetivos é mostrar como vivem, pensam e o que move não só os soldados ucranianos, mas também os separatistas
Foi assim que tudo começou: uma manifestação pacífica contra a aproximação à Rússia protagonizada pelo ex-Presidente ucraniano Viktor Ianukovitch, que resultou em quatro meses de manifestações e mais de uma centena de mortos, a deposição de um Presidente corrupto, atualmente procurado pela Interpol, e um conflito sangrento no leste do país "sem fim à vista".

Os Babylon '13 filmaram as turbulentas ruas de Kiev durante 24 horas por dia, sete dias por semana, de novembro de 2014 a março de 2015. Daí resultaram dezenas de curtas-metragens e uma longa, que percorreu o mundo em mais de uma centena de projeções na Europa e nos Estados Unidos.

Depois de Kiev, o grupo de Yuriy Gruzinov seguiu para a Crimeia, anexada pela Rússia em março de 2014, e pouco depois para o leste da Ucrânia, para registar tudo o que se passa nas principais linhas da frente. "Um dos objetivos é mostrar como vivem, pensam e o que move não só os soldados ucranianos, mas também os separatistas", explica o membro do Babylon '13. No fundo, acrescenta, "trata-se de um movimento de luta contra a guerra informativa alimentada pela Rússia".

Quero voltar àquela Moscovo onde cresci. Quero que alguma coisa mude e que as pessoas vejam por fim quem na realidade é o inimigo
Todo o trabalho do grupo é realizado por conta própria. Os Babylon '13 orgulham-se de ser independentes e não terem patrocinadores, com todo o dinheiro a sair dos próprios bolsos. Contam apenas "com as ajudas de voluntários e algumas parcerias com a CNN, a Al Jazeera e a NBC", explica Yuriy. Desabafa que muitas vezes os membros da sua equipa não têm sequer "dinheiro para comprar coletes antibalas", arriscando as próprias vidas em prol da informação.

Quando confrontado com a pergunta: "Como é que é ser russo do lado dos ucranianos?", Yuriy respira fundo e pede para não haver generalizações: "Não se pode culpar toda a Rússia por aquilo que está neste momento a acontecer no leste da Ucrânia". Segundo o cineasta, "nenhum dos lados é perfeito". Contudo, Yuriy diz estar do lado da razão, do lado "da construção de uma sociedade com valores democráticos" que espera que um dia chegue ao seu país.

"Quero voltar para casa, para Moscovo, e encontrar pessoas felizes e alegres, que não se arrepelem quando ouvem a palavra Ucrânia. Quero voltar àquela Moscovo onde cresci. Quero que alguma coisa mude e que as pessoas vejam por fim quem na realidade é o inimigo", desabafa Yuriy.

Se tu não quiseres construir o teu país, ninguém vai fazê-lo por ti
Para o cineasta, apesar do violento conflito que abala a Ucrânia há um ano, "há uma coisa que se pode agradecer à interferência russa: graças ao inimigo, os ucranianos ficaram mais unidos do que nunca, transformando-se numa rocha indivisível".

Apesar de filmar na linha da frente, o russo diz nunca ter temido pela própria vida, revelando que aquilo que realmente o assusta é "estar de lado sem fazer nada, ser parte daquela percentagem de pessoas que não querem saber". "Se tu não quiseres construir o teu país, ninguém vai fazê-lo por ti", diz.

O conflito na Ucrânia dura há mais de um ano, vitimou mais de seis mil pessoas, deixou dezenas de cidades destruídas, milhares de desalojados e centenas de crianças órfãs. Segundo o depoimento de vários soldados, o conflito entre forças ucranianas e separatistas pró-russos não tem fim à vista, e praticamente todos os dias são reportadas baixas de ambos os lados. Isto apesar das informações de que está a ser cumprido o cessar-fogo estipulado nos acordos de Minsk, assinados em fevereiro deste ano.

http://expresso.sapo.pt/

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